Um dia desses...

Reconheci o rostinho pequeno que acabara de subir no ônibus. Era o mesmo que me havia feito sorrir alguns dias antes com uma sabedoria infantil que eu só dividira com uma pessoa. Dessa vez, a pequena que se aproximava trazia um braço engessado que parecia pesado demais para um pessoa tão pequena. Sentou-se ao meu lado, reconheceu-me também.

- Oi! Sou eu, a Lu! Você tá triste, menina?
- Só um pouquinho, mocinha. E você? Também parece triste. Que foi?
Fez beicinho, baixou a cabeça. Doçura pura.
- É que eu quebrei o braço... - disse mostrando o gesso - E doeu muito. Mas a minha mamãe disse que eu sou forte, e que meu braço ia consertar logo. Mas ainda tá doendo, por isso eu fico triste. - Parou uns instantes e olhou pensativa pra janela. Depois virou-se pra mim, rostinho concentrado: - Você também quebrou alguma coisa?

Não respondi logo. Como é que se explica pra alguem tão pequeno que corações também se quebram...? Como é que se diz pra uma criatura tão doce que isso também dói, mesmo que a gente seja forte? Como é que se conta pra uma criança que os braços quebrados se consertam, mas que eu já não sabia se coraçoes faziam o mesmo? Não soube a resposta. Me resumi num sorriso.

- Deixa isso pra lá, Lu. Quer uma bala?
...

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